Diante da superlotação dos cemitérios públicos, enterrar alguém virou praticamente um desafio em Campo Grande. A opção é acionar serviço particular em troca de taxa de manutenção perpétua. A situação deixa em alerta entidades e autoridades. Alguns pressionam a prefeitura a abrir crematório, enquanto outros sugerem a otimização do espaço, com jazigos em forma de prédios.
Na prefeitura, a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) responde pela “bronca”. Procurada pela reportagem, por meio da assessoria de imprensa, a pasta avisou se manifestar apenas na tarde de hoje (16), durante audiência pública, proposta pelo vereador Eduardo Romero (PtdoB), para debater a situação.
De responsabilidade do Poder Público, existem três cemitério na Capital. O mais antigo, fundado em 1936, é o Santo Antônio, com cerca de 6,5 mil túmulos. Lá, conforme a assessoria de imprensa do vereador, não existe mais sepultamento, apenas se a família, dona de um jazigo, tiver um espaço vago.
Fundado em 1961, o Cemitério Santo Amaro tem 223 quadras, com cerca de 160 covas e capacidade de sepultamento para 35.680 corpos. No local, ainda segundo a assessoria de Romero, também não há mais vagas. Só abre espaço de cinco em cinco anos, quando é feita a exumação de entes de famílias inadimplentes ou de indigentes.
O Cemitério Cruzeiro, fundado em 1967, tem 167 quadras, com 97 covas, 16.199 túmulos e é outro que está lotado. “Estão todos lotados, por isso, a prefeitura vem acelerando o processo de exumações para tentar atender a demanda”, disse o coordenador do Formads (Fórum de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Mato Grosso do Sul), Haroldo Borralho.
Sem espaço nos cemitérios públicos, o presidente da Associação das Empresas de Pax e Funerárias de MS, Ilmo Cândido de Oliveira, contou que a saída dos campo-grandenses é enterrar nos sete espaços privados. “A situação só não é pior porque cemitérios tem feito sepultamento de associados”, frisou.
Neste caso, além de pagar entre R$ 1,5 mil a R$ 10 mil pelo sepultamento, é necessário bancar taxa de manutenção perpétua, que varia de R$ 45 a R$ 100 por jazigo. Em média, em cada jazigo, cabem três corpos.
“Isso é uma tremenda sacanagem, porque o espaço não é vendido, é alugado eternamente”, afirmou Borralho. “E quem não pagar, depois de cinco anos, verá os restos mortais serem exumados para a empresa vender novamente o mesmo jazigo”, emendou.
Além disso, segundo Eduardo Romero, sepulturas estão sendo violadas e esqueletos e corpos estão expostos no Cemitério Santo Amaro. “Isto é um desrespeito”, avaliou. “ Estamos falando de uma questão de saúde pública, meio ambiente e de um grande impacto nas condições de vida da população”, completou.
Saídas – Em junho do ano passado, o vereador propôs projeto de lei para instalação de um crematório municipal, como alternativa à superlotação e más condições dos cemitérios da cidade. A proposta é apenas autorizativa e depende do Poder Público para sair no papel.
A alternativa também é defendida pelo Fórum do Meio Ambiente e pela ABCCON (Associação Brasileira da Cidadania e do Consumidor). O crematório, inclusive, teve a concessão autorizada em fevereiro deste ano e a previsão era construí-lo na Avenida Tamandaré.
Outra opção, defendida por Romero e Borralho, é a verticalização dos jazigos. “Faz três ou quatro andares, pré-moldados, tem a vantagem de não ter o necrochorume (produzido pela decomposição dos corpos) e otimiza o espaço”, destacou o coordenador do Formads.
Ele defendeu ainda a substituição dos muros dos cemitérios municipais por fileiras de túmulos concretados e verticalizados de três ou quatro andares. “Do lado de dentro do cemitério, fica a boca da gaveta e para fora um muro”, detalhou.
Segundo Borralho, todas as sugestões foram apresentadas para a prefeitura, que, até agora, só falou na expansão do cemitério Santo Amaro, situado na Vila Sobrinho. A proposta, no entanto, é rejeitada por completo pelos moradores da região. “O pessoal quer praça, supermercado e não a ampliação do cemitério”, explicou Borralho.